quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

UMA MENTIRA POR DIA NÃO SABE O BEM QUE LHE FARIA


Todos os dias, a seguir ao jantar, a conversa, já em velocidade de cruzeiro, quebrada por silêncios confortáveis de pensamentos alinhados, ele levantava-se, que se deixasse ela estar; ele tratava do resto, ia à cozinha, dirigia-se à máquina, agarrava em chávenas e pires e colheres, tratava do resto e regressava, Servia-a amavelmente, deixa-te estar que eu trato disto, queres duas colheres de açúcar ou adoçante, trouxe os dois, hoje só uma, respondia ela, mas do verdadeiro, dieta nem tanto e ria-se e ele também e estendia-lhe uma mentira bem tirada. Era excepcional a tirar mentiras: percebia de temperaturas do momento e de jeitos e outras coisas precisas e nunca usava nada que fosse de supermercado, pacotes embalados a vácuo, nem pensar: era a sua própria mistura , que trazia de sabes lá o que eu corri para encontrar esta, é realmente muito boa, não é? E ela concordando, bebendo a mentira deliciada, acendendo um cigarro e suspirando enquanto estendia as pernas, uma maravilha, sabe lindamente, querido! E assim se ficavam, numa serenidade feita desse perfume, que ela saboreava no momento melhor do dia, contava às amigas, é o melhor momento do meu dia, quando estou ali absolutamente relaxada e sossegada, a beber aquilo, ele pode não saber cozinhar, mas eu desculpo-o; é realmente especial aquela hora do nosso dia.
Ele ia variando, para ela não se fartar do mesmo sabor, sabes lá o que eu corri para encontrar esta e ela, grata, sorridente, feliz, és mesmo bom para mim, tenho tanta sorte, ele satisfeito com aqule resultado, o trabalho que deve compensava largamente, e todos os dias repetia os mesmos gestos, uma mentira sempre bem tirada, não era preciso mais nada.
Às vezes ela dizia, hoje se calhar não, preciso de me deitar cedo, vou só fumar um cigarro e ele, sempre solícito, espera que tenha ali outra coisa e ia à cozinha, tirava chávenas e pires e colheres, fervia àgua e misturava mentiras em folhas que depois coava e, quando estendia a tisana, dizia, vais ver que com esta ainda dormes melhor e ela, agradecida, contente, que simpatia, que charme, que sorte tenho, àmanhã quando contar às minhas amigas vão ficar verdes de inveja, quem lhes dera esta felicidade todos os dias, realmente não sei porque complicam tanto, basta uma chávena, e é tudo tão simples.
Não sabe bem quando começou a ter insónias. Acordava de noite em pânico, estendia os braços, às vezes encontrava-o, outras não, claro que não está cá hoje, que parva, ele disse-me, ainda estou meia a dormir e dava voltas e voltas na cama sem o encontrar e, claro, as insónias eram disso, mas dormia mal, cada vez pior e sentia-se assim mais ou menos pouco em forma durante o dia, é de não dormir, não sei o que tenho; vai ao médico, aconselhavam as amigas, que te andas a definhar, essas insónias estranhas, eu se fosse a ti ia e ela lá se convenceu. Minha senhora, disse o doutor, depois de exames e análises, não tem nada, mas deveria evitar beber coisas que lhe tirem o sono antes de dormir, nem uma tisana? Nem jma tisana, minha senhora, às vezes essas tisanas calmantes sabe-se lá o que têm dentro, beba àgua que limpa o sistema, muita àgua da torneira, beba àgua minha senhora e durma que o seu mal é sono.
Nessa noit, depois do jantar, ele levantou-se e disse-lhe deixa-te estar que eu trato de tudo e ela responde, amor, só um copo de àgua da torneira, deixa-te estar tu, vou eu buscá-lo, levantou-se e nunca chegou a ver o olhar de total e absoluto pânico dele.
Texto de Catarina Campos - Economista

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

HOMENAGEM A FLORBELA ESPANÇA




Mesmo antes de seu nascimento, a vida de Florbela Espanca já estava marcada pelo inesperado, pelo dramático, pelo incomum.
Seu pai, João Maria Espanca era casado com Maria Toscano. Como a mesma não pôde dar filhos ao marido, João Maria se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antónia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antónia, Apeles. Mais tarde, Antónia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam.



Florbela entra para o curso primário em 1899, passando a assinar Flor d’Alma da Conceição Espanca. O pai de Florbela foi em 1900 um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal. A mesma paixão pela fotografia o levará a abrir um estúdio em Évora, despertando na filha a mesma paixão e tomando-a como modelo favorita, razão pela qual a iconografia de Florbela, principalmente feita pelo pai, é bastante extensa.



Em 1903, aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte. Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos.



Em 1908 Antônia Conceição, mãe de Florbela, falece. Florbela então ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, fazendo com que a família se desloque para essa cidade. Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário, fato que não era visto com bons olhos pela sociedade e pelos professores do Liceu. No ano seguinte casa-se no dia de seus 19 anos com Alberto Moutinho, colega de estudos.



O casal mora em Redondo até 1915, quando regressa à Évora devido a dificuldades financeiras. Eles passam a morar na casa de João Maria Espanca. Sob o olhar complacente de Florbela ele convive abertamente com uma empregada, divorciando-se da esposa em 1921 para casar-se com Henriqueta de Almeida, a então empregada.



Voltando a Redondo em 1916, Florbela reúne uma seleção de sua produção poética de 1915 e inaugura o projeto Trocando Olhares, coletânea de 88 poemas e três contos. O caderno que deu origem ao projeto encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, contendo uma profusão de poemas, rabiscos e anotações que seriam mais tarde ponto de partida para duas antologias, onde os poemas já devidamente esclarecidos e emendados comporão o Livro de Mágoas e o Livro de Soror Saudade.



Regressando a Évora em 1917 a poetisa completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras, e logo após ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Após um aborto involuntário, se muda para Quelfes, onde apresenta os primeiros sinais sérios de neurose. Seu casamento se desfaz pouco depois.



Em junho de 1919 sai o Livro de Mágoas, que apesar da poetisa não ser tão famosa faz bastante sucesso, esgotando-se rapidamente. No mesmo ano passa a viver com Antônio Guimarães, casando-se com ele em 1921. Logo depois Florbela passa a trabalhar em um novo projeto que a princípio se chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de Quimeras. Por fim, torna-se o Livro de Soror Saudade, publicado em janeiro de 1923.



Após mais um aborto separa-se pela segunda vez, o que faz com que sua família deixe de falar com ela. Essa situação a abalou muito. O ex-marido abriu mais tarde em Lisboa uma agência, “Recortes”, que enviava para os respectivos autores qualquer nota ou artigo sobre ele. O espólio pessoal de Antônio Guimarães reúne o mais abundante material que foi publicado sobre Florbela, desde 1945 até 1981, ano do falecimento do ex-marido. Ao todo são 133 recortes.
Em 1925 Florbela casa-se com Mário Lage no civil e no religioso e passa a morar com ele, inicialmente em Esmoriz e depois na casa dos pais de Lage em Matosinhos, no Porto.
Passa a colaborar no D. Nuno em Vila Viçosa, no ano de 1927, com os poemas que comporão o Charneca em Flor. Em carta ao diretor do D. Nuno fala da conclusão de Charneca em Flor, e fala também da preparação de um livro de contos, provavelmente O Dominó Preto.



No mesmo ano Apeles, irmão de Florbela, falece em um trágico acidente, fato esse que abalou demais a poetisa. Ela aferra-se à produção de As Máscaras do Destino, dedicando ao irmão. Mas então Florbela nunca mais será a mesma, sua doença se agrava bastante após o ocorrido.
Começa a escrever seu Diário de Último Ano em 1930. Passa a colaborar nas revistas Portugal Feminino e Civilização, trava também conhecimento com Guido Batelli, que se oferece para publicar Charneca em Flor. Florbela então revê em Matosinhos as provas do livro, depois de tentar o suicídio, período em que a neurose se agrava e é diagnosticado um edema pulmonar.
Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.”




Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”.





FONTES:http://www.instituto-camoes.pt/cvc/projtelecolab/tintalusa/numerodois/tl3.html
http://purl.pt/272/2/index.html
http://www.torre.xrs.net/
Coleção “A Obra Prima de Cada Autor” – Editora Martin Claret
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Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.

Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

https://www.malhanga.com/musicafrancesa/becaud/au_revoir/

    Se fosses luz serias a mais bela   De quantas há no mundo: – a luz do dia! – Bendito seja o teu sorriso Que desata a inspiração Da minha...