-O Tempo Seta-
"...Quanto tempo demorei a reparar no tempo?Não muito. Devia ter uns sete anos. Lembro-me de um tarde cinzenta e ventosa, o vento sul entrava por baixo da janela e esfriava o quarto. Eu estava a meter os livros na pasta, para o dia seguinte. De repente, pensei: este dis já passou e nunca mais voltará. Tudo o que vi, senti, sofri e ouvi desapareceu para sempre. Cada pôr do Sol é um pequeno passo para a morte.
Foi a partir de então que comecei a ver de uma forma diferente cada pessoa que encontrava. Havia a pessoa e, a seu lado, um pequeno poço. Esse poço ficava perto da cama e cada enardecer engolia o dia que tinha passado. Havia poços quase vazios, como o meu e o dos meus irmãos, e poços já cheios, como o dos avós. Os poços quase cheios faziam-me chorar.
A partir daí, a ansiedade foi a minha fiel companheira."
Extraído do Livro Cada palavra é uma semente - pag.13
2 comentários:
O meu comentário é um pouco dsfazado do conteúdo maravilhoso da escritora do texto.Somos amigos e a amizade não se explica, ela é flor tão rara que só a experiência a sabe saborear. Ela deixa marcos tão profundos que o tempo não pode apagar. Bjs
É muito real e bonito. E de uma crueza que nos faz doer. Real e triste. Bonito e duro, profundo. Susana Tamaro sente o que escreve.
Beijinhos, Leonor.
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