Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquina
sem esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(Poema de Eugénio de Andrade)
“Sorriso, é a manifestação das lábios, quando os olhos encontram o que o coração procura!”
quarta-feira, 9 de agosto de 2006
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3 comentários:
Vim dar hoje uma espreitadela ao teu blog a partir dos links do "chuviscos".
Gosto muito deste poema de Eugénio Andrade.
Mas ao ver o título "Adeus" pareceu-me que te estavas a despedir...
Ka susto, amiga!
Bom Agosto... mas se possível menos quente, eu agradeço.
Um abraço.
será isto 1 despedida?
beijinhos
espero que isto não seja uma despedida... só se for de fim-de-semana!
não faça nada que eu não fizesse!
beijoca da tia!
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