quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

A FALA DUM CRAVO VERMELHO

Da braçada de cravos que trouxeste
Quando vieste,
Minha linda,
Há um - o mais vermelho e mais ardente -
Que espera ainda ansiosamente
A tua vinda...

Só ele resta agora, entre os irmãos
Já desfolhados...
Só ele espera piedosas mãos
- As tuas lindas mãos e os teus cuidados -
Lhe dêem, numa pouca de água clara
E enganadora,
Uma ilusão da vida que animara
O seu vigor de outrora...

Mas que outro está, da hora em que o cortaste
Ainda em botão!
Murcham-lhe as pétalas e tem curva a haste,
Num grande ponto de interrogação...

Voltado para a porta em que surgiste,
Na noite perturbante em que o trazias,
Parece perguntar porque partiste
... E porque não voltaste, há tantos dias!?...



Augusto Gil - Sombra de Fumo

5 comentários:

António disse...

Querida Leonor!
Agora pregaste-me um susto!
Comecei a ler este poema e a certa altura pensei:
Mas como estava inspirada a Nokas. Isto é um poema a sério!
Só um pouco mais tarde verifiquei que era do Augusto Gil.
ah ah ah
Boa escolha!

Obrigado pelo comentário que escreveste em relação à minha história do menino da mamã.
De facto, tenho a noção de que algumas destas "short stories" que tenho vindo a escrever me tem saído bem.

Beijinhos

Anónimo disse...

Olá, Leonor!
..."porque partiste e não voltaste?"

Bonito poema!

Bjs

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

O REGRESSO

Os amigos insistiram no regresso do “BEJA”.

O desejo íntimo também era grande…

Porque não dar vida de novo a este projecto?

Além das notícias do Alentejo voltamos a ter outros

temas interessantes e sempre a lembrança dos

bons Poetas Alentejanos e não só.

Assim decidimos voltar e esperar o bom acolhimento

de sempre dos Amigos que aqui encontrei e dos

novos que porventura nos visitem.

Abraços amigos

Pepe Luigi disse...

Entrei sem ser convidado. Gostei e penso que entrarei mais vezes sem bater à tua porta.

Adoro Augusto Gil! Toda a sua poesia lírica como: "Luar de Janeiro", "Canto da Cigarra", "Balada da Neve", etc.
Como também gosto da sua fase satírica. Vejamos um poema dele produzido numa obra que eu possuo, que é a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, selecção feita por Natália Correia. Espero não me leves a mal eu reproduzi-lo para chegarmos à conclusão que já em princípios de 1900, época do puritanismo, era comum este tipo de poesia.
Pena é que nas escolas nos façam associar a um determinado poeta ou escritor somente a sua face
"rosada".

QUANDO O INTESTINO...

Quando o intestino
Arma em tenor
E canta fino,
Não há fedor...

Se o som é forte e é baritonal
E mal que rompa, de repente estaque
Temos o que na fúria intestinal
Se chama: traque.

Espalha um cheirozito, uma pitada
Que o beque surpreendeu mas não reteve:
Quase nada...
Coisa leve...

Se a tripa inteira corneteia e rufa
Num concertante
De ópera bufa,
Já não é simples sainete
Nem a sonância, nem o mais que expele:
É um cheirete
De alto lá com ele!...

Se o som, porém, é como o ai duma donzela
Que tem penas de amor e que as não conta aos pais;
Se põe na roupa a viva côr duma aguarela
E suja o rabo
Então cheira muito mais,
Oh, muitíssimo mais, oh alma do diabo!

Agusto Gil

Pepe Luigi disse...

Perdoa-me não me ter despedido no comentário anterior, pelo que o faço agora.

Um beijinho
do Pepe.

https://www.malhanga.com/musicafrancesa/becaud/au_revoir/

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