terça-feira, 4 de julho de 2006

MAIOR FOSSE O DIA... - 2ª. parte

Voltei à Escola, assisti a mais duas aulas, uma de inglês, onde um bocadinho ensonada, devido à noite mal passada e a fazer a digestão do almoço, o que me deu um certo quebranto… Quebranto?!... É assim que se diz?... Bem, vocês percebem… Adiante! Como estava ensonada, respondi em francês, em vez de inglês. Bolas…- pensei eu, e fiquei a ver se a coisa passava. E passou… Falei baixo ou havia muito barulho, não sei bem. Passou e prontos!

Quando as aulas terminaram, tic, tic, tic, lá vou eu para a paragem do autocarro. Ele chegou, eu entrei, mas desta vez não havia ar condicionado nem música. Avancei por ali dentro, no intuito de me sentar e deparo com duas senhoras trocando as impressões habituais “do quem sai primeiro”. Era só o que me faltava! De repente o carro arranca, faço uma pirueta, dou um safanão na senhora que estava atrás de mim que, por sua vez, se desiquilibra também e bate noutra que quase vai cair no meio da coxia. Que mais me irá acontecer?! Por essa altura já estava a soltar fumo pelas ventas qual dragão e, quando voltei à posição normal, consegui sentar-me.

Entretanto, começam as conversas das “comadres”. E as conversas são como as cerejas, vêm uma após outra. Começaram pela condução do motorista, passando pelas doenças, filhos e o que mais vier à baila. Estes são os temas favoritos das mulheres. E falo no feminino, porque são as mulheres, sem dúvida, quem fala mais. Uma dizia: “Olhe lá para a condução deste gajo! É assim que elas acontecem!”. A outra respondeu, com ar furioso: “E andamos nós a pagar para isto!” Só não falam nos ordenados chorudos dos futebolistas… Adiante! Há uma outra que fala em operações: “Aqui onde me vê, já tenho sete anestesias no corpinho!”. Fiquei a saber que duas foram para cesarianas; outra para operação à coluna; outra para a da vesícula e já não me lembro das restantes porque a minha vontade era anestesiar a língua da senhora, pois tinha um tom de voz estridente, que me feria o tímpano. E as conversas lá prosseguiram. Bem… pelo menos ia sentada, embora o calor dentro do carro apertasse. E se abrisse a janela…ou melhor, ou “postigo”… Logo salta a de trás, toda indignada: “Não pode ser! A corrente de ar faz-me mal à garganta!”. Mas qual corrente de ar?!... Fecha a janela e não retroques, pensei eu E lá aguentei o calor. O que me valeu foi o leque e a garrafinha com água que trago sempre na mala. Mulher prevenida, vale por duas, sempre ouvi dizer… Quando já me tinha resignado, eis que toca o telemóvel da do lado. Incrível, que barulheira! Até estremeci. “Tou! Tou!” – atende a dita cuja senhora, em alto e bom som. “Vou no autocarro! Estou na Av. Infante D.Henrique!” Puxa… é preciso gritar daquela maneira?!

Efectivamente, estávamos na tal avenida e o motorista entra na ponte em grande estilo. Até parece que ia num avião em descolagem… Os motoristas novos carregam bem no acelerador, já repararam?

Ze………. ze…………. ze……….., lá vamos nós! Ah!!!... foi por um triz que não deu uma pancada no da frente! Fui lançada para diante, quase bati com os queixos no outro banco, depois para trás, batendo com toda a força com as costas, Aí, já farta de tanta coisa. Resmunguei entre dentes.” Porra…,tirem-me daqui…”. Gerou-se uma confusão dos diabos porque tudo o que uma fulana levava o saco do supermercado se espalhou pelo chão . Agora era ver a malta, de rabiosque para o ar, tanto quanto o espaço permitia, a apanhar, solícita, a mercadoria enquanto insultavam o motorista.

Finalmente cheguei ao destino. Furei por entre as pessoas e lá consegui sair. Mas não era tudo! Uma mãe ficou com a criança dentro do carro porque o motorista fechou a porta antes de tempo. Nem queiram saber o que para ali foi… Abriu o vocabulário e zás! Mesmo depois do miúdo sair e da porta fechada, foi atrás, de punho cerrado, dando murros no autocarro e ameaçando o pobre coitado do motorista que já devia de estar totalmente “envinagrado”.

Depois desta odisseia, entrei em casa e ouvi: “Caramba, nunca mais chegavas!”

Cala-te boca…

7 comentários:

o alquimista disse...

Salve seja minha querida amiga, é o rebuliço dos grandes centros, no entanto fica a forma como narras estes acontecimentos, és uma escelente contadora de histórias.

Um beijinho "O ALQUIMISTA"

António disse...

Querida Leonor!
Poderias dar-lhe o sub-título de:
"Aventuras e desventuras de uma lisboeta em Lisboa".
Como sempre, bem escrito e com o humor sobrenadante.

Beijinhos para ti

Elipse disse...

Mas isto está tudo mudado!
E bonito!
Ai desculpa amiga a infidelidade, mas passarei a ser mais assídua porque as tuas histórias merecem leitores.
Um beijo.

Madalena disse...

lol

;)*

Sara disse...

Olá Nokinhas***:)

Está tão bem redigido que consegui visualizar toda esta tua aventura…deliciei-me a confirmar o que relatas, pois quando vou no autocarro também passo a conhecer grande parte das senhoras que lá vão…parece que fazem questão :)
Muitos sorrisos me arrancaste com esta tua historia, adorei particularmente esta expressão: “porque a minha vontade era anestesiar a língua da senhora”…é capaz de ser uma boa resolução para muitas línguas.
Um beijinho grande***

Anna^ disse...

Mas que grande odisseia mulher ;)

beijinho ":o)

joaninha disse...

Adorei esta viagem... senti-me também dentro desse autocarro, trocando experiencias de viagens atribuladas...
Espero que a aula não tenha sido a minha... eu a fazer sono!!! tenho de mudar de estilo... para a próxima levo musica metálica, para não dar sono... e vou passar a guinchar para não criar "quebranto"!
Gostei muito do texto. Vamos a mais?! Beijinhos.......

https://www.malhanga.com/musicafrancesa/becaud/au_revoir/

    Se fosses luz serias a mais bela   De quantas há no mundo: – a luz do dia! – Bendito seja o teu sorriso Que desata a inspiração Da minha...