domingo, 6 de abril de 2008

PRECISO...


Preciso dum ombro para encostar a minha cabeça. Hoje a vida pesa-me. Os meus olhos estão sem lágrimas porque ficaram retidas no meu coração inundado de tristeza. Preciso dum ombro, porto seguro no mar da minha mágoa. Perante a minha impotência para estancar o desgaste do tempo naqueles a quem amo, sinto-me a rodopiar sobre o meu próprio ser e tenho medo de caír, de me perder. Como serei dentro de dez anos?... Assim?... Pior?... Sem querer, recordo as nossas brincadeiras de há muito tempo atrás: "Quando formos velhinhas vamos as duas, de braço dado, passear para a Baixa! Mas vamos ser sempre muito bonitas e limpinhas!" E ainda oiço o eco das nossas gargalhadas, como se esse tempo estivesse lá longe... muito longe... no infinito! Nessa altura eu ainda era a boneca de carne e osso que ela ajudou a criar. Nessa altura ela era a minha Mana Alice. Tudo o que ela fazia era perfeito, tudo o que tinha era bonito, e os meus olhos extasiavam-se, quase venerando tudo o que ela representava para mim. Passou tudo muito depressa. Hoje somos duas mulheres. Passamos pela experiência maravilhosa da maternidade. Até os nossos filhos nasceram no mesmo dia da semana, no mesmo mês e quase à mesma hora! Hoje somos duas mulheres e já percorremos muitos caminhos. Por ironia da vida, agora está ela a transformar-se na minha "menina". Talvez um dia tenha de ser eu a ajudá-la a reaprender coisas que aprendi com ela. Estes são os caminhos da vida...
Preciso dum ombro para encostar minha cabeça...


5 comentários:

Joseph 1 disse...

Leonor
Boa tarde,

O teu post demonstra o grande coração da mulher que és, da menina que foste.

A vida é madrasta, por vezes.

Nesta hora difícil, precisas de um ombro amigo para desabafar, quem sabe até para chorar, porque chorar, como sabes, faz bem à alma e alivia o stress desta porcaria de vida actual, em que vivemos.

No que puder, conta comigo.

Beijinhos ternos, do fundo do coração.;)**

Anónimo disse...

Olá vizinha, aqui tens o teu amigo encantado com a tua escrita. Toca o coração de qualquer um.És realmente muito sensível e se é isso que te vai na alma, estou contigo. Bjs

António disse...

Querida Leonor!
Infelizmente, as relações fraternais nem sempre são tão ricas como parecem ser as vossas.

Beijinho

Anónimo disse...

Olá, Leonor|
Um texto maravilhoso, que toca-nos com a tua sensibilidade, com o teu olhar humano sobre as experiências que a vida nos proporciona.
Um abraço amigo!
Bjs

Berta Helena disse...

Comoveu-me o teu texto. A vida faz-nos destas coisas, acabamos por chegar a momentos como este de que falas ou parecidos que nos deixam a alma dorida. E olhamos para todos os lados e temos dificuldade de encontrar a forma que menos magoará, a melhor forma de lidar com a situação. Principalmento no nosso interior... espero não estar a ser confusa.
Gostei muito do teu texto, da forma como estrutiraste as tuas ideias e sentimentos.

Beijinhos
Berta

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