sexta-feira, 4 de novembro de 2005

UM DIA ATRIBULADO

Hoje levantei-me ainda ensonada, eram quase dez horas. Por isso, ao olhar para o relógio tive de “acelerar”. Tinha uma aula à uma hora… Não era… era às duas. Fiz tudo a correr incluindo almoçar. Dei os últimos retoques no visual, vesti o impermeável e aí vou eu, escada a baixo.

Quando cheguei à rua, lembrei-me que não levava o telemóvel. Subi a escada a correr, procurei por todo o lado e nada! Decidi ligar do fixo para ouvir de que lado vinha o toque e assim descobri-lo. Encontrei-o. Peguei nele, corri pela escada abaixo e, quando cheguei a meio da rua, lembrei-me de procurar na mala os óculos. Revolvi tudo e nada… Quando pensava voltar atrás, já a deitar fumo pelas ventas, reparei que os tinha no nariz… Dei meia volta e recomecei o caminho em direcção à paragem do autocarro. Com receio de perder o próximo, alarguei o passo e acabei a correr, fora do passeio, por causa dos ramos das árvores da casa do Senhor General… Ao chegar à curva dei de caras com um carro que vinha todo lampeiro a entrar na rua, sem se preocupar em ver primeiro se poderia apanhar alguém. Assustei-me, dei um salto e ia caindo nos braços do polícia que está sempre por ali de serviço á porta do dito General… O pobre lá aguentou o embate, certamente contrariado, pois se fosse uma rapariga de vinte anos ainda valia a pena… Mas vá lá, nenhum de nós caiu! Dirigi-lhe um sorriso amarelo e desculpei-me. Atravessei a correr e lá consegui apanhar o autocarro. Pronto! Finalmente posso sentar-me e descontrair um pouco… - pensei eu. Um pouco mais adiante entra uma senhora de idade avançada e certas limitações. Os assentos estavam todos ocupados, inclusive os reservados. Ninguém se moveu. Pelo contrário, fizeram vista grossa, como já é hábito. Caramba, estava a chover e a malta ia tão bem acomodada… Pensei cá para comigo: “Maria, levanta-te! Pratica a boa obra do dia!”. Lá chamei a senhora que me agradeceu com um “obrigada, menina…”. As lentes não devem estar actualizadas porque a pensão dela não dá nem para os aros quanto mais para o resto mas, mesmo assim, senti-me lisonjeada… Quando vagou um lugar sentei-me. Ao chegar ao destino levantei-me e caíram-me os livros para o chão. Todo o mundo se baixou para ser prestável e apanhei cá com uma cabeçada que até fiquei a ver estrelas. Enfim, lá consegui sair e caminhei em direcção à Calçada do Carmo. Antes de lá chegar fui abordada por uma jovem que me fez um questionário: “Gosta de fado? Sabe cantar o fado? Não?... Mas olhe que tem cara de fadista!”. Como é isso?! Mas como não tinha tempo para esclarecer o assunto, continuei. Respirei fundo e iniciei a subida.

Apareceu-me não sei de onde um rapaz que dantes costumava estar na Estação do Cais do Sodré, pedindo para comer e dizendo que é seropositivo. Mais adiante um a vender o Borda d’Água. Depois um com ar exótico e um penacho na cabeça pediu-me qualquer coisinha para o almoço dele e do cão. Mais acima outro entrevistador, com as mesmas perguntas. Sempre a andar e bem acelerada, com ele aos saltinhos ao meu lado, disse-lhe que pusesse – sim, não, não e dei-lhe logo o nome. Isto é o que se chama despachar em grande velocidade!

Finalmente cheguei à escola e a horas de assistir à aula. Quando terminou preparei-me para fazer a viagem de retorno, pensando em tudo o que tinha aprendido e também no que iria fazer para o jantar. Cheguei à rua, escorreguei e, sinceramente, tive vontade de dizer um palavrão! Quando descia a Calçada lá estava o mesmo rapazinho e outro do mesmo estilo, companhado por uma moça que tocava um tambor. Esse pedia para o jantar dos músicos…Fui à Casa da Sorte ver se tinha tido alguma… Corri para o autocarro mas decidi esperar pelo próximo porque aquele já estava a abarrotar e os meus pés doíam-me imenso. Quando apareceu o outro, que também não vinha lá muito tentador, decidi entrar e furar por entre toda aquela gente que me deitava olhares de esguelha. E não é que havia um lugar vago, mesmo ali junto à porta? Sentei-me e perguntei-me, intrigada: “Será porque a senhora é de cor?... Não, não posso acreditar!”.

Eis que chego à “freguesia”! Subo a rua, meto a chave à porta, surge-me a cadela vinda do quintal , radiante, dá um salto e põe-me as patas todas sujas na gabardine… Aí não me contive e disse: “Porra! Que mais me irá acontecer?!!!!”.
Depois de jantar e de arrumar a cozinha vim sentar-me aqui e o computador declarou greve e recusou-se a aceitar as minhas ordens, por isso comecei a escrever este apontamento num caderno enquanto ele resolveu se havia ou não de publicar o post anterior. Neste momento é quase uma da matina.

Conclusão:

Ele há dias de manhã em que a gente à tarde não deve sair à noite!...

Durmam bem!

3 comentários:

Anna^ disse...

Mas q dia hein???
Não me leves a mal mas fartei-me de rir c este teu relato.Estou rendida à tua escrita :)

bjokas e um bom fim de semana ":o)

José Gomes da Silva disse...

Acompanhei passo a passo o teu dia. Passo a passo? Uma maratona, diria! Estou cansado de te acompanhar...deixa-me respirar mais um pouco...pronto...acho que já recuperei um pouco o fôlego.

Espero que os teus dias não sejam muitas vezes assim.

...Apenas as vezes suficientes para, egoístas, voltarmos a ler excelentes textos como este, que nos prende do princípio ao fim.

Bjs

Avozinha disse...

Calçada do Carmo? Chiado? Engraçado, dei aulas por aí durante 24 anos...
E que saudades da zona!

https://www.malhanga.com/musicafrancesa/becaud/au_revoir/

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