quarta-feira, 10 de agosto de 2005

SEU NOME MARIA ROSA...


Maria Rosa não era uma mulher bonita, mas mesmo com o avançar da idade, mantinha um encanto especial que lhe era dado pela sua simplicidade cativante com a qual conquistava quem dela se abeirava.

Nascida naquelas terras distantes do Minho reflectia nos seus olhos as paisagens de lugares verdejantes e aprazíveis que fazem bem à alma e a purificam da vida agitada das cidades. Os seus cabelos entrançados tinham o perfume da alfazema e alecrim.Movia-se com graciosidade, falava com o acento característico do seu lugar e era bom escutar as suas gargalhadas sadias e contagiantes. Sempre pronta para ajudar os mais velhos, onde fosse necessária não faltava com palavras carinhosas e gestos genuínos duma alma nobre e dum bom coração, o que a tornava a menina querida de todos.

Seus pais já tinham morrido e, desde muito nova Maria Rosa vivia acalentando o sonho de toda a rapariga: casar e constituír família. Rapazes não lhe faltavam pois com seu jeito gracioso suplantava a beleza das outras moças lá do lugar.

E um dia ele apareceu. Chamava-se Pedro e conquistu o coração da cachopa. Faziam um bonito par, toda a gente dizia e casaram. Foi a boda mais linda que por ali alguma vez se tinha visto! No seu vestido branco ela era o alvo de todas as atenções. O noivo, rapaz bonito, olhava-a com um misto de ternura e admiração. As outras raparigas reviam-se nela e sonhavam com um dia assim . Quando chegou a altura da noiva atirar o ramo o entusiasmo cresceu e era vê-las , de braços levantados, aos gritos, competindo entre elas para ver quem o apanhava e seria a próxima a casar, segundo a tradição!

Um... dois... três! Lá vai o ramo! Uma moça trigueira dá um salto e apanha-o! Depois, ofegante e corada, olha de soslaio para o seu prometido. Como dispara aquele coraçãozinho... como é bela a mocidade! Palmas, gargalhadas e alegria por todo o lado! Por instantes as atenções dos presentes desviaram-se da noiva para se concentrarem nela que, ao sentir-se o alvo de tantos olhares, ainda corou mais escondendo o rosto com as flores.

As mais velhas recordavam a sua juventude e viam-se retratadas em Maria Rosa. Rosinha era agora uma mulher casada. Quem diria! Como o tempo passou! Ainda outro dia cabia na palma de uma mão...

Ela e Pedro viveram felizes o seu amor e um dia veio o primeiro filho, um rapaz. Chamaram-lhe Miguel. Ficava-lhe bem o nome! Com os olhos da mãe e muitas parecenças ao pai, era a opinião de todos. O garoto cresceu, são que nem um pero . Era traquina, o malendreco, mas saía-se sempre bem...

Quando ele tinha dois anos, Maria Rosa voltou a ficar de esperanças.

Agora veio uma menina. Essa sim, era a cópia fiel da mãe! Até os olhos eram iguais, com a mesma expressão. Seu olhar era meigo, indescritivelmente meigo e até lhe chamavam "a menina dos olhos de veludo"!...

E Maria Rosa agradecia a Deus tão grande dádiva que lhe era concedida através dos fllhos e do amor do seu companheiro que também era um homem feliz e realizado. Vivia para a mulher e para os miúdos . A vida corria-lhes bem, eram felizes.

O tempo passou, as crianças já não eram mais crianças, cresceram, tornaram-se adultas e abriram as asas para novos voos. Miguel estudou e foi para França trabalhar. Uma vez por ano visitava a família e passava as férias com os pais.

Margarida, a rapariga, que tem nome de flor como a mãe e herdou o seu amor à terra e o gosto pelas coisas simples da vida, casou. João foi seu colega em Lisboa quando andava a estudar. Foi amor à primera vista e dali ao casamento foi um passo. Foram viver para Lisboa, a terra dele e eram felizes embora um pouco do coração dela tivesse ficado preso ao seu lugar.

Maria Rosa e Pedro ficaram sós, sempre apaixonados como no primeiro dia., Dava gosto vê-los.

Mas um dia, há sempre um dia em que a roda da vida desanda, e a vida deles mudou. Sem se fazer anunciada a desventura entrou, repentinamente, naquele casa. Pedro morreu deixando a mulher entregue ao desespero. Com os filhos longe a solidão de Maria Rosa era grande. Por vezes deambulava pela casa vazia, despojada dos gritos e correrias das crianças, sem o riso do seu Pedro. A casa não era a mesma, jamais seria e ela sofria em silêncio aquele enorme vazio. Que era feito do seu sonho?

Agora quando sorria era para esconder um rio de lágrimas que lhe corria por dentro da alma.

Como todas as rosas ela também tinha os seus espinhos ...

Seu nome Maria Rosa, tem o perfume de flor...


7 comentários:

Sofia disse...

Grande história!
Bjs

joaninha disse...

Gostei muito da história da Maria Rosa. Vamos muito bem nas escritas,só que ainda ando à procura do gato que foi à rua, mas deve ter-se perdido...
Um grande beijo.

Heavenlight disse...

Bonita história. Quantas Maria Rosas por esse mundo fora, amando uma única vez e para sempre!
Parabéns mais uma vez pela escrita realista e cheia de sensibilidade!

Anna^ disse...

Bonita história...merecedora de um outro final mas...a vida é assim...os "happy ends" nem sempre chegam!

bjokas e um bom dia ":o)

Leonor disse...

muito bem contado. beijinho da leonor

Ana disse...

Nunca estamos preparados para a morte!
É e será sempre doloroso perder alguém próximo.
Gostei muito da história e do poema lá de vaixo.
Continua :)
Beijocas

António disse...

A história de uma vida comum, muito bem contada.
Jinhos

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