sexta-feira, 28 de outubro de 2005

ERA UMA VEZ

A Mana Alice e eu


Todas as histórias começam por "era uma vez"... E todos nós temos a nossa história. Esta é a minha e começa assim:

Era uma vez uma menina moreninha e cabeluda que nasceu num radioso dia de Agosto, no lindo bairro de Alfama. Às sete horas da manhã fiz a minha aparição e logo gritei: "Aqui estou!". Sou da Freguesia de São Vicente de Fora e nasci em casa dos meus avós. Quem me ajudou nessa tarefa de vir ao mundo foi a minha tia, mais tarde madrinha, que era professora, parteira e enfermeira. Em qualquer das profissões era super- eficiente. Quando me agarrou pelas pernas e me deu um valente estalo no rabo para eu tomar ar, logo me fadou: "má e refilona como a madrinha!". Como vêm, também tive uma fada madrinha... Má não sou, ou por outra, não me considero, mas refilona, isso sim, embora com o tempo tenha melhorado...

Meu pai revia-se na sua menina pois eu era a carinha chapada dele... Super-protegida como se fosse de cristal, fui uma filha muito amada e a boneca da minha irmã, mais velha do que eu. Chamava-lhe Mana Alice e andava sempre atrás dela. Nunca mais me esqueci das histórias que me contava para eu comer. Nesse aspecto eu era uma pestinha... e só ela tinha paciência para me aturar!

Às vezes, mentalmente, recuo no tempo à procura da recordação mais longínqua da minha infância. Não sei se é sugestão, por causa de coisas que me contaram, se é verdade que me lembro do dia do meu baptizado, aos dois anos de idade . É um pouco duvidoso... Lembro-me de que, mesmo antes de saber ler, sempre que me sentava no bacio levava uma folha de jornal e, com o dedo, ia seguindo as linhas. Gostava de brincar às professoras. Quando fui para a escola primária e vi aquela porta enorme fechar-se pensei que nunca mais me iam buscar...

Vivíamos com os meus avós maternos. Ele era o algarvio mais calado que eu conheço. Era sapateiro, fazia sapatos para as artistas de teatro, coisas lindas... Gostava de ajudá-lo nos acabamentos e conhecia todos aqueles ferrinhos que ele utilizava pelos nomes. Ás vezes ia com ele à Baixa entregar a "obra" e enchia-o de perguntas acerca disto e daquilo, pois estava na idade das descobertas. Gostava imenso daquele casa velha e, quando penso nela parece-me que ainda estou a ver um raiozinho de sol, quentinho e poeirento a entrar pela janela da cozinha. Meu avô tinha um viveiro e criava canários. Como costuma dizer-se:" cresceram-me os dentes" a ver fazer sapatos e também a ver cuidar de canários!

Quando brincava com os meus tachinhos e panelinhas inventava coisas como por exemplo: o azeite era feito de raspas de lápis amarelo misturadas com água, e o vinagre de raspas de lápis verde. Imaginação infantil não tem limites!

Minha mãe fazia uns biscoitos de erva-doce, deliciosos e os pastéis de bacalhau feitos pela Mana Alice eram tentadores... E assim fui crescendo dividindo-me entre a minha casa e a dos vizinhos do andar de baixo, a Bia e o Sr. Eduardo. Por volta dos nove anos mudámo-nos para o bairro de Alvalade e começou uma nova fase da minha vida.

Há coisas que nunca se esquecem, por mais que o tempo passe, mas hoje fico por aqui. Talvez um dia continue...

4 comentários:

Maria Carvalho disse...

As recordações que nos marcaram. Beijinhos

António disse...

Estou a ver que já estás na fase de transição de "c´est moi" para "nokinhas".
Em relação a esta biografia, ficaria muito zangado se não a continuasses. Fico à espera!
Devo dizer-te que, em relação a lembrares-te do teu baptizado com 2 anos é perfeitamente possível.
Eu lembro-me de algumas coisas com dois anos. O nascimento da minha irmã, por exemplo. Está aqui (e aponto para a cabeça) todo como um filme. E outras coisas, como excitar-me sexualmente com a empregada...eh eh eh.
Eu prometia! ah ah ah

Obrigado pela tua visita!
Estes reencontos com antigas namoradas ou namorados resultam muitas vezes num renascer de sentimentos. Por vezes ainda mais fortes.
E eu sei do que falo...ah ah

Beijinhos

th disse...

Ah como é bom, mas com às vezes doi recordar...tu és cá das minhas, volta sempre que eu também. th

José Gomes da Silva disse...

Vim aqui agradecer-te a visita ao meu blogue, mas desta feita estou mesmo a fazer uma "visita relâmpago" . Prometo voltar, para te ler com mais tempo, com mais atenção, e, decerto com imenso prazer.

Bjs

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